Escrita, falada ou em disputa, entenda as muitas formas de fazer poesia

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Uma das formas mais expressivas da literatura e que vem ganhando cada vez mais espaço e reconhecimento entre as principais premiações é a poesia. Bob Dylan surprendeu a todos sendo o vencedor do Nobel de Literatura, sob a justificativa de ter criado “novas expressões poéticas”, curiosamente no mês de outubro, quando comemora-se o Dia do Poeta. Outro compositor, Arnaldo Antunes, ganhou o Jabutti da categoria por Agora aqui ninguém precisa de si e se destaca pela versatilidade artística, caminhando por diferentes criações de linguagem.

Ao longo da história, grandes nomes desenvolveram essa arte. Ainda no século VIII a.C., Homero criou Ilíada, a narrativa épica grega e em 1572, Luís de Camões escreveu Os Lusíadas, com mais de 8 mil versos cuidadosamente elaborados em ritmo e métrica silábica. Mas a poesia, como uma forma de arte, pode ser, inclusive, anterior à escrita. A repetição e a forma rítmica são fatores que ajudam a memória a lembrar e recontar histórias. Por isso, muitos estudiosos defendem as velhas tradições orais poéticas como o início da mesma.

Alguns poetas, simplesmente sentem-se mais à vontade na oralidade e direcionam seu trabalho nesse sentido. É o caso da poeta Maria Rezende, que aprendeu a falar poesia, antes mesmo de escrever seus primeiros poemas. “Eu comecei a falar os poemas de grandes autores, mas de tanto falar, a minha poesia brotou”, comenta. Maria tem três livros publicados e estudou na Escola Lucinda de Poesia Viva, com tradição na palavra falada. Seu primeiro livro, Substantivo feminino, lançado em junho de 2003, vem acompanhado de um CD, com os poemas ditos por ela. O novo livro Carne do umbigo não vem mais com um CD, mas os poemas estão no canal da poeta no youtube. “A palavra falada está na raiz da minha palavra escrita, eu escrevo já pensando no ritmo, na minha respiração e no tempo”, completa.

Não há limites para a poesia

Outro gênero que tem se popularizado nessa arte é o poetry slam – em que, além de escrever e declamar os versos, o poeta compete com outros participantes numa apresentação que envolve performance e interpretação. As disputas de poesia acontecem em diversos saraus, como o da Cooperifa em São Paulo, onde a escrita fica em segundo plano durante o processo criativo.

Em Entrevista para a Folha de São Paulo, durante a Flip deste ano, a poeta, “slammer” e rapper inglesa Kate Tempes falou sobre “spoken word” – ou a poesia falada – presente em sua obra. “O poema na página não está terminado. A leitura lhe dá vida. O poema na página é um mapa, mas não é o destino. Ele precisa de você para seguir sua jornada e transformar-se num poema. Poesia é linguagem cantada”, afirma Tempest.

Conheça alguns livros de poetas que fizeram sucesso na tradição oral e escrita:

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Os Tijolos Nas Paredes das Casas, de Kate Tempest

Becky, Harry e Leon estão deixando Londres, num carro de segunda mão, e com uma mala cheia de dinheiro. O que levamos de nós mesmos, quando decidimos seguir numa viagem? O que de fato conseguimos deixar para trás? Voltando no tempo, Os tijolos nas paredes das casas explora as emoções humanas, a vida contemporânea nas cidades, nos apresenta irresistíveis histórias, por vezes obscuras, e deixa claro que nem sempre boas intenções levam às decisões certas. Kate Tempest nos faz refletir e sobre como nos tornamos nós mesmos, através de momentos contraditórios de beleza, desejo, decepção, fracasso e muita ambição.

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Bendita Palavra, de Maria Rezende

Um olhar revelador sobre o cotidiano e a paixão arrebatadora pela palavra (impressa na pele em forma de tatuagem) são as matérias-primas do segundo livro da poeta carioca Maria Rezende. Em Bendita Palavra a voz feminina retorna cheia de lirismo. “Ela tem um jeito próprio de escrever. Não é poesia ‘feminina’, mas quem fala ali é uma mulher. A fala é fluente mas o uso das palavras é irreverente e criativo.” (FERREIRA GULLAR)

Teatro Hip Hop-Roberta Estrela Dalva

Teatro Hip Hop, de Roberta Estrela Dalva

“Aprendi com ela o que é ser um ator-MC, poetryslam e esse modo falado, abri os olhos para outras concepções de performance e quase-teatro. Acompanhei sua busca de conhecimentos, o empenho em seguir achados, propostas e teorias. Como este livro nos diz, o método é para ela a aprendizagem instantânea e a reflexão acumulada. A experiência que traz nos capítulos encadeados é a sua própria, o pão de cada dia. O microfone (aberto) é o objeto mediador, mais que isso, interferente nas ações do criar, nas poéticas da invenção. A voz vem junto, os aplausos também.” Jerusa Pires. Ferreira

 

Fonte: http://blog.estantevirtual.com.br/2016/11/30/poesia-e-escrita-ou-falada/